SPACE ORDIMAN: A AVENTURA - PARTE 2






Continuação da aventura....

Øystein Yngve, um norueguês obcecado em se tornar um deus vivo, comprou o manuscrito Ubabu Ukunta, acreditando que ele era a chave para sua ascensão. Desde jovem, sua mente foi fragmentada pela leitura das Escrituras de Cosma, que falavam de dimensões ocultas e arquitetos da realidade. Filho de uma ocultista envolvida em rituais sombrios e supostamente concebido durante um pacto com uma entidade, Øystein afirmava ser a encarnação de um poder divino.

Herdeiro de uma família rica, usava sua fortuna para colecionar relíquias e financiar expedições, sempre em busca de sinais do sagrado proibido. Em sua mansão isolada nos fiordes, mergulhou no manuscrito em meio a rituais perturbadores, música extrema e velas negras. Vizinhos relatavam sons monstruosos e luzes sobrenaturais ao redor do local.

Convencido de carregar em seu sangue um mal ancestral ligado ao movimento do black metal norueguês dos anos 1990 — que, segundo ele, escondia rituais de abertura de portais para realidades sombrias —, Øystein acreditava estar no limiar da transformação, vendo no espelho não mais seu rosto, mas a face de um deus desconhecido.

Øystein acreditava ser o herdeiro natural de um legado sombrio. Para ele, os incêndios, a música e a violência da geração do black metal norueguês eram apenas a superfície de um chamado maior, iniciado muito antes de seu nascimento — selado no ritual obscuro de sua mãe, onde Wombá já teria marcado sua linhagem.

Mas o fanático não queria apenas repetir os passos antigos. Seu objetivo era maior: trazer Wombá para a Terra em corpo e essência. Até então, apenas os irmãos africanos liderados por Kofi haviam avançado nesse caminho, permitindo que a entidade alcançasse duas formas de manifestação: a mental, infiltrando-se nos sonhos e delírios humanos, e a espiritual, surgindo como sombra colossal nos rituais de sangue.

Øystein, porém, sabia que aquilo era apenas um prenúncio. As projeções que realmente importavam ainda estavam por vir: a física, que daria a Wombá um corpo de carne, ossos e minerais, capaz de esmagar e governar diretamente sobre o mundo; e a energética, ainda mais temida, que fundiria o planeta inteiro à dimensão da criatura, apagando qualquer fronteira entre matéria e espírito.

O plano de Nocthyl era tão imutável quanto cruel: conquistar a Terra não apenas em mente e espírito, mas também em corpo e energia. Sua manifestação física rasgaria a realidade, moldando um corpo impossível, feito de ossos profanados, sangue coagulado, metais subterrâneos e um núcleo vibracional sufocante. Já a projeção energética dissolveria qualquer fronteira entre matéria e psicosfera, impregnando ar, água e consciência humana com sua essência. Não haveria fuga: a humanidade viveria em agonia, alimentando sua fome.

Esse sofrimento, porém, não era o objetivo final. A Terra corrompida serviria de portão para a entrada de outros predadores cósmicos, caçadores sem forma vindos das regiões mais baixas da escuridão. O destino dessa invasão era claro: a Egiosfera, um oceano vibracional repleto de mundos frágeis, ricos em energia vital, habitados por civilizações ingênuas que facilmente seriam escravizadas sob ilusões divinas. O planeta azul seria apenas a base de partida para a expansão das sombras.

Øystein Yngve aceitava esse desfecho com devoção. Via-se como mediador da Descida, convencido de que seria recompensado com um corpo divino ao se fundir com a essência da criatura. Não se considerava servo, mas herdeiro, filho de uma nova era. E foi nessa fé que iniciou rituais jamais tentados, certo de que o tempo da espera havia terminado.

Nas suas mãos repousava o Ubabu Ukunta — não um livro, mas um organismo vivo, um transmissor que o transformava em antena para entidades antigas. Cada leitura era absorção, cada palavra vibrava em sua mente como golpe certeiro em sua percepção espiritual. O silêncio desapareceu: vozes o cercavam dia e noite, exigindo ação. Páginas manchadas de tinta ou sangue surgiam sozinhas, e o próprio ar de sua mansão parecia se tornar pesado e denso.

O primeiro ritual de Øystein aconteceu em segredo, em sua mansão isolada entre montanhas norueguesas. No porão frio e úmido, traçou um círculo com sal e cinzas humanas, colocou o Ubabu Ukunta no centro e acendeu velas negras feitas de gordura animal misturada ao próprio sangue. O silêncio logo se rompeu: vozes antes internas ecoaram pelas paredes, o ar ondulava, e entidades invisíveis pareciam observá-lo. Animais próximos enlouqueceram e moradores juraram ver figuras sombrias rondando a casa.

Os primeiros seguidores que presenciaram a cerimônia foram tomados por náuseas, calafrios e convulsões, enquanto Øystein, em transe, lia trechos do livro. Então, do centro do círculo, surgiu uma massa de fumaça viva, deformando-se em rostos, animais e horrores sem nome. A névoa queimava sua carne, mas esta se regenerava, como se fosse moldado para resistir. Ao oferecer seu próprio sangue ao livro, selou o pacto: o Ubabu Ukunta absorveu as gotas como tecido vivo, gritando em ecos ensurdecedores. A partir dali, Øystein não era mais apenas estudioso, mas condutor.

Logo, os efeitos se espalharam: mortes inexplicáveis, surtos de alucinação e desaparecimentos assombraram regiões vizinhas. O livro tornou-se um parasita em sua vida: páginas mudavam sozinhas, símbolos se reescreviam e vozes o acompanhavam dia e noite. Oystein, agora irremediavelmente possuído, se preparava para algo maior.

O segundo ritual ocorreu em uma floresta coberta de neve. Nove seguidores o acompanharam, atraídos por sua promessa de revelação. Em um hexagrama distorcido, com animais amarrados nos vértices, o sangue derramado abriu a clareira em uma espiral de energia. Do fogo azul das tochas surgiram rostos flamejantes e garras, enquanto uma sombra colossal se ergueu no centro: a projeção de Wombá-Nocthyl. Tentáculos de trevas envolveram os presentes, levando alguns à morte e outros à insanidade.

Foi então que a Criatura falou com ele, não em palavras, mas em conceitos gravados como brasas em sua mente: ele seria a boca, o vaso e o mediador da descida. Øystein, tomado por êxtase, entregou-se por completo. A partir desse momento, deixou de ser apenas ocultista ou músico: tornou-se sacerdote vivo de Nocthyl, conduzindo a transição da sombra para a carne.

O culto cresceu. Artistas, jovens e estudiosos do abismo foram atraídos pela sua presença. Isolado em seu apartamento em Oslo, entre grimórios, símbolos e trevas, Øystein já não era visto como homem, mas como profeta de uma era que nasceria da destruição.

Durante três anos, Øystein viveu como um ermitão urbano, escondido em seu apartamento saturado de incenso e símbolos, guiado por um calendário secreto que só ele compreendia. Enquanto Oslo seguia sua rotina comum, ali dentro o tempo era distorcido: cada noite era marcada pela presença do Ubabu Ukunta, que pulsava como um organismo vivo, emitindo estalos e suspiros, alimentando-se do sangue e da mente de seu guardião.

Foi em 2019 que a clausura rompeu fronteiras. Um chamado invisível atravessou a psicosfera global: estudiosos, fanáticos, milionários e almas perdidas começaram a ouvir a mesma frequência — não em mensagens comuns, mas em sonhos, visões e pulsos que batiam dentro da consciência. Sem jamais se conhecerem, encontraram-se nos subterrâneos da internet, reativando fóruns mortos, ressuscitando linguagens secretas, reconhecendo-se como se sempre tivessem caminhado juntos.

Ninguém sabia quem havia iniciado, mas Øystein reconheceu os sinais: frases retiradas do Ubabu Ukunta, símbolos mal desenhados mas ainda corretos, testemunhos idênticos de sonhos que se repetiam em diferentes continentes. Aos poucos, a rede deixou de ser apenas digital: surgiram vídeos de rituais, símbolos gravados em igrejas profanadas, sacrifícios improvisados em catacumbas esquecidas. Cada ato era uma antena, uma fissura na psicosfera, ampliando a abertura para a descida de Wombá-Nocthyl.

Da convergência digital nasceu a Nocthylianis Ukunta, não como seita comum, mas como um organismo vivo, pulsando na psicosfera. Seus membros acreditavam receber instruções diretas do Inframundo: visões que anunciavam um evento catastrófico entre 2019 e 2020, não como tragédias naturais, mas como engrenagens de um ritual maior — o caminho para a manifestação de Nocthyl.

Chamavam esse processo de Ordem Anti-Cosma, a inversão dos pilares da realidade, onde criação se tornaria corrupção e vida se tornaria dissolução. Muitos adeptos acreditavam que seriam recompensados com posições de poder, mas a verdade era cruel: todos seriam devorados, servindo apenas de combustível para manter aceso o corpo da Criatura.

O plano possuía estágios claros. O Pré-Reset, iniciado em 2019, consistia em semear tragédias, pandemias e guerras, acumulando energia psíquica coletiva para abrir a fenda entre os mundos. O Grande Reset, previsto para 2030, seria o colapso final: a humanidade extinguida, a Terra transformada em altar, abrindo o portal definitivo para Nocthyl e outras Criaturas do Inframundo.

Um dos seguidores anônimos de Øystein relata sua descida ao abismo da Nocthylianis Ukunta. Nunca esteve em Oslo, mas sentiu a presença do líder através da rede, em sonhos e rituais digitais que o ligaram espiritualmente ao culto.

Entre 2019 e 2020, participou de cerimônias online: velas diante de câmeras, símbolos gravados na pele, sangue derramado como pacto coletivo. O ápice veio quando testemunhou, por chamada de vídeo, o sacrifício de um cão — e percebeu que a dor atravessava a tela, fazendo-o sentir fisicamente o sangue e o grito. A barreira entre digital e espiritual já não existia.

Nos meses seguintes, foi atormentado por pesadelos: familiares mortos, vultos vermelhos, vozes que o moldavam para a corrupção. A loucura veio acompanhada de êxtase — a revelação de que estava começando a gostar do caos.

A fuga só ocorreu quando recebeu uma mensagem anônima com o endereço de um posto da Interpol, que investigava a seita. Lá encontrou refúgio, mas não libertação. Continua marcado pelos símbolos, pelas vozes e pela sensação constante de que Nocthyl o observa.

Em 2020, rumores sombrios apontavam para o nome de Tong Yan Lu, cientista renomado de Wuhan, mas também alto membro da Nocthylianis Ukunta. Guardião de uma versão primordial do Ubabu Ukunta, escrita em sangue coagulado e resina fossilizada, Tong unia ciência e magia em experimentos secretos que buscavam transformar o invisível em matéria.

Em novembro de 2019, rompeu os últimos selos de ligação com Nocthyl, tornando-se condutor direto da entidade. Testemunhas relataram que ele irradiava uma aura antinatural: sua presença distorcia o ar, provocava visões apocalípticas e sua voz soava metálica, como se viesse de outro mundo.

Pouco depois, realizou um ato velado — alguns dizem ter sido uma ruptura biológica, outros, a abertura de uma fenda vibracional. Para os iniciados, porém, não havia dúvida: aquele foi o verdadeiro início do Pré-Reset.

Em Varanasi, Índia, um grupo ligado à Nocthylianis Ukunta e aos seguidores de Wombaia conduziu, desde dezembro de 2019, um ritual contínuo às margens do Ganges. O objetivo: condensar energia vital suficiente para dar corpo físico a Nocthyl, já infiltrado na psicosfera da Terra.

Na madrugada do ápice, algo indescritível emergiu: uma figura monstruosa, de cinco metros, feita de escuridão viva, pulsante e impossível de ser compreendida pelos olhos humanos. O fedor, a distorção da realidade e as visões apocalípticas enlouqueceram os presentes, que se viram reduzidos a presas diante de seu deus.

A criatura se expandiu até vinte metros, ergueu-se como um colosso abissal e disparou para o céu como um foguete de trevas, transformando-se em uma esfera de energia que depois mergulhou na terra, desaparecendo. O silêncio que se seguiu foi tomado pelo terror: Nocthyl não apenas havia chegado, mas havia se espalhado.

Entre os sacerdotes, um ancião desmaiado foi tomado pela entidade. Seus olhos tornaram-se cinzentos e sua boca, possuída, repetiu em coro metálico: “AGUARDEM NOVAS ORDENS...”. A frase ecoava como um comando direto da psicosfera, gravando-se na mente de todos, até que seu corpo se dilacerou.

A chegada de Nocthyl à Terra não foi silenciosa. Médiuns e guardiões de tradições ligadas a Cosma sentiram de imediato a intrusão: uma força corrosiva que penetrava a psicosfera e o núcleo vibracional do planeta. A Terra reagia como um organismo em choque, mas sua resistência se convertia em catástrofes — enchentes, terremotos, erupções e incêndios — tragédias que, em vez de frear a entidade, serviam de combustível para sua expansão.

Entre 2021 e 2024, desastres sucessivos — das inundações na Europa e no Paquistão, ao terremoto na Turquia-Síria, às enchentes no Brasil e à fúria do Furacão Beryl — marcaram a escalada. Para a humanidade eram calamidades; para os seguidores de Nocthyl, eram sacrifícios involuntários, oferendas globais que alimentavam sua presença.

Wombaia não é apenas uma raiz esquecida, mas o coração negro de um culto que atravessou séculos sob a máscara da Criatura Local chamada Nocthyl. Adorado em rituais interditos, o deus Wombá permaneceu soterrado até renascer na escuridão digital. Seu culto, a seita Nocthylianis Ukunta, ergueu uma catedral invisível na Dark Web — um labirinto de fóruns mascarados que, sob camadas de senhas, revelam bibliotecas profanas, instruções de rituais e registros de sacrifícios.

Ali, entre arquivos criptografados, ecoam vozes que não pertencem a este mundo. Espíritos parasitários caçam os frágeis — almas quebradas, mentes cansadas — e nelas se instalam como larvas psíquicas, sussurrando ideias que parecem próprias, mas são correntes invisíveis. A vítima se torna porta e veículo, espalhando desarmonia como quem respira.

Essas entidades não precisam de carne: são ecos fossilizados de consciências antigas, predadores que se alimentam da energia vital e do medo. E a cada avanço tecnológico, encontram terreno fértil. Desde os primórdios da internet, infiltram-se em fóruns esquecidos, símbolos cifrados e códigos obscuros. Hoje, colonizam redes sociais, algoritmos e mundos virtuais, moldando emoções coletivas como escultores da desordem.

Às vésperas de 2025, o mundo já não era apenas palco de tragédias e catástrofes — era o tabuleiro de um plano oculto. Desde novembro de 2019, quando o Sinal reverberou silencioso na psicosfera global, uma onda de rituais e sacrifícios em massa abriu brechas no tecido da realidade. Não se tratava apenas de sangue e ocultismo: fóruns digitais e redes sociais tornaram-se condutores dessa energia, espalhando dor e desesperança como vírus invisíveis.

Esse acúmulo permitiu que Nocthyl, entidade ancestral do Inframundo, projetasse sua presença na Egiosfera, ocupando a Terra não como invasor, mas como conquistador silencioso, fincando um estandarte sombrio no coração do planeta. Entre seus instrumentos estava Tong Yan Lu, figura-chave que, consciente ou não, abriu as fendas por onde a criatura consolidou domínio.

Entre 2019 e 2025, o ciclo se fortaleceu: cada desastre, cada levante de ódio, cada “acidente” ocultava o sacrifício de muitos. Em 2025, sob a supervisão direta de Nocthyl, as operações entraram em escala global. Tudo convergia para um desfecho inevitável: o Grande Reset de 2030, quando a humanidade, já quebrada e exausta, seria incapaz de resistir. Não haveria guerra, apenas o cumprimento de um ciclo cósmico de aniquilação.


 


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