SPACE ORDIMAN: A AVENTURA - PARTE 3

 


Continuação aventura parte 3... 


Nocthyl não ergueu sozinho seu domínio. Para sustentar o ciclo de manipulação humana, uniu-se à vasta colônia espiritual Ordiman, um enxame de obsessores que, desde eras remotas, alimenta-se da energia densa do medo e da dor. A chave desse pacto estava no instante da morte: quando a consciência se desprende do corpo e se torna vulnerável, tecnologias herdadas do Inframundo permitiam aprisioná-la.

Esses métodos foram ensinados por Nocturna, a Criatura Híbrida ancestral que moldou três arautos: Nebryth, capaz de criar mundos ilusórios para enganar espíritos; Voltrith, mestre em paralisar e conduzir energias sutis; e Nocthyl, o propagador, que espalhou a teia de aprisionamento pelo Cosmo. Cada consciência capturada se tornava bateria, cada colônia psíquica alimentava Ordiman — e, sobretudo, Nocturna, que inserira fragmentos de seu próprio DNA psicosférico nos rituais, desviando parte da energia para si.

Assim, milhões de mortos não encontraram descanso, mas prisão invisível em realidades falsas, sustentando a ascensão de uma criatura que se fortalece em silêncio, como aranha imóvel no centro de sua rede.

A missão de Nocthyl era expandir o legado profano de Nocturna e transformá-lo em uma arma cósmica. Ele espalhou-se como infecção psíquica, atraindo consciências corrompidas pelo ódio e pela violência, reunindo espíritos fragmentados e criaturas rejeitadas pelo Cosmo. Nas profundezas do Inframundo, esses seres foram moldados em hordas disciplinadas, treinadas para aprisionar almas, criar ilusões e cultivar dor como energia.

Com o tempo, surgiram colônias espirituais móveis — verdadeiras cidades negras que vagavam pelo universo como frotas de piratas cósmicos, saqueando planetas e drenando vitalidade de civilizações inteiras. Nocthyl não apenas recrutava: ele moldava legiões. Cada novo aliado se tornava um braço de sua vontade, e cada mundo tocado por seus tentáculos psicosféricos sentia o mesmo sintoma: um vazio espiritual sufocante, prenúncio de que a sombra já havia se instalado.

A Terra não é apenas um planeta comum. Por causa de sua posição única e do campo energético que a conecta a Saturno, ela funciona como um ponto de interseção entre mundos. Isso significa que a Egiosfera, onde as consciências humanas se entrelaçam, pode se ligar ao Inframundo, lar de criaturas como Nocthyl e seus aliados. Cada medo ou dor vivido pelos humanos gera energia que atravessa essa ponte invisível, alimentando forças que dependem do sofrimento para crescer.

Saturno, guardado pelo elemental Caelus, deveria servir como barreira natural contra esse tipo de contato entre planos. Ao lado de Gaia, o espírito elemental da própria Terra, Caelus sustenta a ordem cósmica. Mas ambos permanecem inertes. Presos às regras das gerações de criaturas, não podem interferir diretamente na vida humana, por mais brutal que ela seja. Para o equilíbrio maior do Cosmo, a dor de uma humanidade inteira não tem peso suficiente.

Esse limite é explorado por Nocthyl. Enquanto os guardiões se mantêm em silêncio, ele transforma a Terra em um campo estratégico: um mundo cheio de consciências vulneráveis e energia abundante. Cada guerra, cada violência e cada morte se tornam recursos para seu domínio, e a humanidade, sem perceber, passa a jogar dentro de um tabuleiro muito maior do que imagina.

No ano de 2025, antigos sinais começaram a despertar em meio à rotina da humanidade. Entidades ancestrais, guardiãs do equilíbrio cósmico, perceberam que a Terra estava sendo lentamente corrompida por uma presença invisível. Seitas religiosas e grupos ocultos, espalhados pelo planeta, passaram a receber instruções claras vindas de planos sutis: algo se movia nas sombras preparando o terreno para o Grande Reset de 2030, quando a humanidade seria arrancada de seus corpos e aprisionada em um cárcere espiritual sem retorno.

A origem desse mal estava em uma criatura primordial que havia escapado de sua prisão. Infiltrada no coração da Terra, ela espalhava energia densa e corrosiva como raízes ocultas. Seu poder se manifestava em surtos de violência, discórdias inexplicáveis e pesadelos coletivos. Com o apoio de cultos anticosmicos — muitos sem perceber a verdadeira natureza do que serviam —, ergueu uma rede global de influência, transformando homens e mulheres comuns em condutores involuntários de sua expansão. Cada lágrima, cada ato de ódio, tornava-se alimento para essa força.

Em resposta, grupos aliados ao Cosmo iniciaram uma preparação silenciosa. Sacerdotes, ocultistas e cientistas foram reunidos em missões secretas para mapear templos esquecidos, cavernas escondidas e símbolos ancestrais que revelavam os pontos de influência da criatura. Logo perceberam que esses cultos não estavam isolados, mas faziam parte de uma rede global interligada, uma engrenagem viva que sustentava o coração sombrio do planeta. Neutralizar esses focos tornou-se mais do que pesquisa: era o início de uma guerra invisível, onde cada falha custaria não apenas vidas, mas a liberdade espiritual de toda a humanidade.

Cada culto derrubado representava um avanço contra as forças que cercavam a Terra, mas o preço era alto. Pesquisadores que se aproximavam demais dos templos e seitas corriam riscos terríveis: sonhos febris, sussurros em idiomas esquecidos, visões de olhos nas sombras. Muitos enlouqueciam, outros simplesmente desapareciam, tragados pelos próprios lugares que estudavam. Ainda assim, a missão seguia, pois cada ponto mapeado era uma chance de enfraquecer a criatura que pulsava nas profundezas do planeta e de preparar parte da humanidade para resistir ao inevitável Grande Reset de 2030.

Nesse cenário, destacou-se a Irmandade de Cosma, uma ordem ancestral cujas origens remontavam aos sumérios e egípcios. Guardiões de segredos transmitidos ao longo de milênios, eles preservaram o conhecimento de uma disputa cósmica pela Terra que chegaria no novo milênio. Formada por intelectuais, ocultistas e até figuras da elite mundial, a Irmandade se posicionava como contrapeso espiritual contra as seitas anticosmicas. E quando os sinais se tornaram claros, não hesitaram: contrataram grupos de diligência treinados em ocultismo e ciência para agir diretamente contra os núcleos cultistas que fortaleciam a criatura do Inframundo.

Foi assim que um seleto grupo de agentes foi convocado para uma reunião secreta nos Alpes suíços, em uma mansão de vidro protegida por rituais ancestrais. Cientistas, linguistas, ocultistas e exploradores atenderam ao chamado, cada um trazendo consigo fragmentos de um mesmo quebra-cabeça. Mas sua chegada não passou despercebida: Nocthyl, a entidade primordial, já sentia sua resistência e lançava sobre eles um ataque sutil — dúvidas, desânimo, sonhos corrompidos. Mesmo abatidos, os escolhidos resistiam, e agora estavam prestes a ouvir, das próprias vozes da Irmandade, qual seria seu papel na batalha invisível que definiria o futuro da humanidade.

O interior da mansão nos Alpes não era apenas luxo: cada parede, vitral e corredor formava um texto oculto, um manuscrito arquitetônico erguido para guardar e transmitir segredos. Ana foi a primeira a decifrar, percebendo que não estavam apenas dentro de uma casa, mas de um livro vivo, feito de símbolos e alinhamentos celestes, que só poderia ter origem nas tradições mais antigas dos construtores iniciados.

Aquela arquitetura não era mero capricho estético, mas herança das antigas ordens de pedreiros que, ao erguer fortalezas e templos, aprenderam a ocultar passagens secretas e mapear rotas invisíveis. Esses homens, em silêncio, tornaram-se guardiões de chaves escondidas, até serem tocados pelos emissários da Triquetosfera, o reino etéreo dos Seres de Luz. Desde então, a arquitetura se tornara liturgia, uma forma de perpetuar o contato entre mundos.

Ana entendeu que cada detalhe da mansão os ligava a uma tradição milenar. A casa era um templum disfarçado, um corpo de pedra vivo que aguardava aquele encontro. Quando o silêncio foi quebrado por passos lentos e graves, todos se voltaram para a entrada: um homem idoso, quase nonagenário, mas de presença esmagadora, atravessava o salão com uma bengala marcada por símbolos arcaicos. Sua voz, grave e firme, não apenas falava, mas impunha silêncio.

Ele revelou que observava cada um há anos e que não os convocara por acaso: estavam diante de uma proposta capaz de alterar não só suas vidas, mas o destino da própria Terra. O ancião falava em nome de uma obra maior, chamando-os não como estudiosos, mas como pilares de uma Grande Obra oculta. E ao pronunciar essas palavras, a própria mansão parecia prender a respiração, como se cada pedra fosse testemunha.

O velho então trouxe a revelação: desde 2009, um comando partira do Inframundo, liberado pela criatura Nocthyl. Esse chamado invisível se infiltrou na mente de ocultistas em todo o mundo, transfigurando a antiga religião Wombaia em algo novo e mais perigoso — um culto digital. A internet tornou-se templo, fóruns secretos converteram-se em criptas virtuais, e símbolos arcanos foram traduzidos em códigos binários. O físico e o virtual se uniam sob o mesmo altar invisível.

Diante deles, portanto, estava não apenas uma reunião, mas um marco. A revelação do inimigo global — Nocthyl —, sua expansão do culto físico para o digital e a certeza de que 2030 seria o Grande Reset. A mansão não era só cenário, mas peça ativa da narrativa, um livro sagrado que os convocava a assumir papéis decisivos na guerra contra forças que operavam tanto em cavernas antigas quanto nos servidores ocultos da rede mundial.

Ao amanhecer, a mansão ergueu-se como uma sombra ancestral em meio à névoa que rastejava pelos campos congelados. Isolada entre montanhas cobertas de pinheiros, parecia um refúgio suspenso fora do tempo, onde até o silêncio guardava ecos de vozes esquecidas.

Cada um dos seis viajantes despertou nesse cenário com a sensação incômoda de estar sendo observado pela própria terra, como se a fazenda fosse um organismo vivo, testando-os em cada gesto. Marlic se refugiou na biblioteca, rabiscando símbolos em seu caderno como quem dialoga com forças invisíveis. Satoshi buscou o lago congelado, deitando-se sobre o gelo em transe meditativo, como se ouvisse deuses adormecidos nas águas. Ilbert, com a altivez de quem domina tudo, percorreu os estábulos, transformando cada detalhe rural em metáfora de poder. Dolores estudou plantas raras nas estufas, ligando seus ciclos às Leis de Cosma, irradiando uma calma que parecia dobrar até a natureza. Ogan inspecionava equipamentos ocultos entre depósitos, atento a sinais que só ele parecia enxergar. Já Ana, diante de uma tapeçaria ancestral, mergulhava em símbolos esquecidos, traduzindo segredos que temia compartilhar.

Poucas palavras foram trocadas entre eles; unia-os não a amizade, mas a engrenagem invisível do destino. Ao meio-dia, o silêncio do vale foi rompido pelo ronco grave de motores: quatro carros pretos surgiram pela estrada. Sem cerimônias, levaram o grupo rumo a Berna, onde um jato os aguardava. O embarque aconteceu sob protocolos militares e nenhuma despedida — apenas passos firmes em direção a algo maior que eles próprios.

A travessia aérea arrastou-se entre sonhos fragmentados e presságios até que o sol nasceu sobre o Polo Sul. A paisagem era de um esplendor quase mítico: um horizonte de ouro e sangue derramados sobre a neve infinita. No coração da desolação, surgiu o improvável — uma pista escondida no gelo. O pouso foi lento, cerimonial. O jato desceu por uma plataforma secreta até as entranhas de aço e concreto que se ocultavam sob o manto branco do continente.

Ali, no subterrâneo, aguardava-os a Dra. Amélia, trajando branco impecável, a serenidade em sua postura contrastando com o peso de segredos que carregava no olhar. Era o prenúncio de que, a partir daquele ponto, não haveria mais retorno.

A voz de Amélia não deixava espaço para dúvidas. Firme e cristalina, guiava o grupo por corredores intermináveis de aço e luz branca, revelando diante deles um mundo subterrâneo que não parecia pertencer à Terra. Sem metáforas, ela falava de Nocthyl como quem recita uma estatística inevitável: a criatura adormecida no coração do planeta, seus sinais desde 2020, e as seitas que se tornaram instrumentos de sua influência.

À medida que avançavam, os viajantes testemunhavam salas envidraçadas, homens e mulheres diante de tecnologias incompreensíveis, dispositivos que pareciam mais próximos da ficção do que da ciência. Em cada passo, crescia a sensação de que não estavam em um laboratório, mas em uma cidade subterrânea erguida para vigiar o invisível.

O caminho descia cada vez mais fundo. Primeiro, experiências que dobravam os limites humanos: corpos levitando, figuras de luz movendo-se em velocidade impossível, esferas translúcidas suspensas no ar. Depois, um galpão colossal, tomado por máquinas e horrores — criaturas aprisionadas, dissecadas, expostas como troféus de uma guerra que não se travava entre nações.

Mas o auge aguardava adiante, na Sala Lúmen. Ali, a tecnologia e o oculto se uniam em formas que desafiavam a razão: cristais que respiravam, antenas que rastreavam sacrifícios como terremotos espirituais, e, no centro, a Esfera de Helmholtz, uma máquina viva que armazenava as cicatrizes do planeta em fluxos de energia azul.

Foi diante dessa visão que Amélia revelou o mapa do mundo como nunca haviam visto: não um globo, mas um corpo pulsante, cruzado por artérias luminosas. Cada fissura, cada ponto vermelho — Tanzânia, Sibéria, Ilha de Páscoa, Antártida — era uma ferida aberta, uma porta para a influência de Nocthyl. Epidemias, guerras, atentados, crises: nada havia sido apenas humano. Eram catalisadores, sacrifícios em escala global.

O grupo permaneceu em silêncio, esmagado pela verdade. Dolores murmurou a conclusão inevitável:
— Então… a história não foi moldada só pelos homens.

Amélia confirmou, com a frieza de quem carrega segredos pesados demais:
— Foi moldada por forças que agora não se escondem mais.

No coração da Sala Lúmen, quinze telas pulsavam como uma membrana viva, exibindo a Terra não em fronteiras, mas em feridas. Pontos vermelhos ardiam como chagas, laranjas latejavam em ascensão, e manchas escurecidas pulsavam em densidade — conexões diretas com Nocthyl.

Amélia se erguia diante deles, iluminada pelo reflexo do mapa vivo. Sua voz era clara e inexorável: cada vermelho era uma porta semiaberta, sustentada por rituais e pactos contínuos. As células ocultistas se espalhavam pelo globo, mas a mais letal, a Nocthylianis Ukunta, não apenas sacrificava sangue — havia criado uma rede digital que infestava consciências humanas, transformando a espiritualidade em escravidão psíquica.

As telas ampliaram regiões: Europa Central, Oriente Médio, África, América do Sul. Linhas tênues conectavam pontos distantes, revelando uma teia invisível de energia, rituais simultâneos alimentando a criatura no núcleo da Terra.

Então veio a revelação sombria: o grupo era a nova linha de frente. Não combateria em batalhas abertas, mas infiltrando-se em células, mapeando líderes, relatando padrões. Um trabalho de sombras, onde um único erro significava virar oferenda. O grupo anterior falhara — capturado, sacrificado, transformado em mensagem cruel transmitida à própria organização.

O silêncio caiu pesado. Ana sentia nas vibrações do mapa as vozes das almas aprisionadas. Dolores desviava o olhar, lutando contra as imagens sugeridas. Ogan cerrava os punhos, enquanto Amélia prosseguia sem suavizar a verdade: seriam caçados desde o primeiro passo. A seita possuía contra-inteligência, infiltrada em posições de poder político, militar e tecnológico.

Rotas douradas surgiram no globo, traçando os caminhos futuros. Missões sem retorno, trajetórias invisíveis pelo inferno humano. Amélia desligou o painel, mergulhando a sala na escuridão, e sua voz ecoou como um pacto:

— Se aceitarem, suas vidas deixarão de ser apenas suas. Serão agentes entre o mundo dos vivos e o peso do Inframundo. A resistência ou o colapso pode depender apenas do que vocês descobrirem.

O silêncio que se seguiu tinha o peso de um juramento.

O vermelho das telas refletia nos rostos como brasas vivas, enquanto Amélia revelava a verdade: não havia escolha, apenas destino. Recusar significava morte, e todos já estavam marcados. Ogan respondeu com firmeza, Dolores chamou de destino e Ana aceitou como sacrifício.

O mapa então revelou o primeiro alvo: Varanasi, a cidade eterna, coração espiritual da Índia, onde a seita Kalicosma — braço da Nocthylianis — transformava pobres e invisíveis em combustível para manter Nocthyl ligado à crosta da Terra. Sacrifícios anônimos, elites ocultistas e rituais à beira do Ganges sustentavam o ciclo de dor e caos.

Na sala secreta, o grupo recebeu identidades falsas, disfarces, drones em forma de corvos, talismãs vibratórios e artefatos onde ciência e magia se uniam. Cada um teria uma fachada para infiltrar-se entre acadêmicos, artistas e diplomatas, mas Amélia os advertiu: o inimigo não lia apenas rostos, lia almas.

Em silêncio, embarcaram no avião subterrâneo da organização. Durante a travessia, apenas Ana, pela janela, percebeu que até as estrelas pareciam vigiar. Ao se aproximarem de Varanasi, o Ganges brilhou como serpente de fogo, suas águas refletindo piras funerárias sem fim. O calor, o incenso e a opressão espiritual os envolveram já no desembarque: a cidade não os recebia como visitantes, mas como intrusos em seu segredo mais sombrio.

A aventura continua no próximo livro…


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